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Poemas de Álvaro de Campos

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Em 8 de março de 1914, aos 25 anos de idade, o poeta português Fernando Pessoa teve um insight e, naquilo que ele chamaria mais tarde de "dia triunfal", criou seus três principais heterô Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Deu-lhes, além do nome, uma biografia, um biotipo e, sobretudo, uma obra e um estilo poético únicos. Trata-se do único caso de heteronímia de toda história da literatura universal.Álvaro de Campos era, segundo Pessoa, "o mais histericamente histérico de mim"; era engenheiro, usava monóculo, e o poeta escrevia sob o seu nome quando sentia um súbito impulso de escrever não sei o quê." Campos é o heterônimo da modernidade, da euforia, da irreverência total a tudo e a todos, cultuador da liberdade, sedento por experimentar todas as sensações a um só tempo e profundamente influenciado por Walt Whitman. De sua lavra são os célebres versos de "Opiário", "Ode trinfual", "Lisbon revisited" e "Tabacaria" – este último considerado dos mais belos poemas da língua portuguesa.

336 pages

First published March 1, 1930

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About the author

Fernando Pessoa

1,221 books6,146 followers
Fernando António Nogueira Pessoa was a poet and writer.

It is sometimes said that the four greatest Portuguese poets of modern times are Fernando Pessoa. The statement is possible since Pessoa, whose name means ‘person’ in Portuguese, had three alter egos who wrote in styles completely different from his own. In fact Pessoa wrote under dozens of names, but Alberto Caeiro, Ricardo Reis and Álvaro de Campos were – their creator claimed – full-fledged individuals who wrote things that he himself would never or could never write. He dubbed them ‘heteronyms’ rather than pseudonyms, since they were not false names but “other names”, belonging to distinct literary personalities. Not only were their styles different; they thought differently, they had different religious and political views, different aesthetic sensibilities, different social temperaments. And each produced a large body of poetry. Álvaro de Campos and Ricardo Reis also signed dozens of pages of prose.

The critic Harold Bloom referred to him in the book The Western Canon as the most representative poet of the twentieth century, along with Pablo Neruda.

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Displaying 1 - 30 of 106 reviews
Profile Image for Ritinha.
712 reviews132 followers
November 22, 2019
«Parte-se em mim qualquer coisa. O vermelho anoiteceu.
Senti demais para poder continuar a sentir.
Esgotou-se-me a alma, ficou só um eco dentro de mim.
Decresce sensivelmente a velocidade do volante.
Tiram-me um pouco as mãos dos olhos os meus sonhos.
Dentro de mim há um só vácuo, um deserto, um mar nocturno.
E logo que sinto que, há um mar nocturno dentro de mim,
Sabe dos longes dele, nasce do seu silêncio,
Outra vez, outra vez o vasto grito antiquíssimo.
De repente, como um relâmpago de som, que não faz barulho mas ternura,
Subitamente abrangendo todo o horizonte marítimo
Húmido e sombrio marulho humano nocturno,
Voz de sereia longínqua chorando, chamando,
Vem do fundo do Longe, do fundo do Mar, da alma dos Abismos,
E à tona dele, como algas, bóiam meus sonhos desfeitos...»
Profile Image for crίѕтίŋα•●Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ●⿒.
862 reviews228 followers
July 12, 2016
Ode Marítima

(...)
Passa, lento vapor, passa e não fiques...
Passa de mim, passa da minha vista,
Vai-te de dentro do meu coração,
Perde-te no Longe, no Longe, bruma de Deus,
Perde-te, segue o teu destino e deixa-me...
Eu quem sou para que chore e interrogue?
Eu quem sou para que te fale e te ame?
Eu quem sou para que me perturbe ver-te?
Larga do cais, cresce o sol, ergue-se ouro,
Luzem os telhados dos edifícios do cais,
Todo o lado de cá da cidade brilha...
Parte, deixa-me, torna-te
Primeiro o navio a meio do rio, destacado e nítido,
Depois o navio a caminho da barra, pequeno e preto
Depois ponto vago no horizonte (ó minha angústia!),
Ponto cada vez mais vago no horizonte....
Nada depois, e só eu e a minha tristeza,
E a grande cidade agora cheia de sol
E a hora real e nua como um cais já sem navios,
E o giro lento do guindaste que, como um compasso que gira,
Traça um semicírculo de não sei que emoção
No silêncio comovido da minh'alma...
- Álvaro de Campos

* * *
Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...)
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
(...)
- Álvaro de Campos
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews80 followers
December 29, 2014
Estou cansado, é claro
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
"De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabe-lo
Pois o cansaço fica na mesma,
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto –
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo…
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente: eis tudo
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa."

Álvaro de Campos


Parte-se em mim qualquer coisa) Alvaro de Campos

Profile Image for Anastasia.
44 reviews1 follower
December 22, 2023
Je me suis multiplié pour m'éprouver,
pour m'éprouver moi-même il m'a fallu tout éprouver.
j'ai débordé, je n'ai fait que m'extravaser,
je me suis dévêtu, je me suis livré,
et il est en chaque coin de mon âme un autel à un dieu différent.


dios pondría el poema entero pero son veinte páginas entonces no pero agsvfbdldnfoxldbdkffmdbkd
Profile Image for eight.
139 reviews14 followers
May 13, 2025
peut-être que c’est le recueil de ma vie…
Profile Image for lana.
186 reviews43 followers
September 27, 2020
“Álvaro de Campos é o personagem de uma peça; o que falta é a peça.”

Tal como todos os estudantes do 12° ano, tive de estudar Álvaro de Campos nas minhas aulas de Português. À primeira, tenho que confessar que os poemas dele não me chamavam à atenção. Talvez fosse por ter a mente um pouco fechada aos temas de que ele falava, ou talvez por estar a ser obrigada a falar no assunto e não a ler livremente os seus poemas.

Durante a quarentena, apeguei-me não só a Campos, mas aos outros heterónimos de Pessoa, graças a duas das minhas melhores amigas (shout out to Mari and Inês). De repente, Álvaro de Campos tornou-se parte da minha vida numa maneira que eu não podia esperar. Por isso, decidi comprar a sua antologia, sabendo que iria adorar, mas sem imaginar o impacto que teria em mim.

A poesia de Campos é quase como sermos envolvidos num abraço de compreensão. Tenho que dizer que os meus poemas favoritos foram: “Saudação a Walt Whitman”, “A Passagem das Horas”, “Lisbon Revisited, “Episodios”, “Tabacaria” (o meu favorito de todos e talvez o meu poema favorito de sempre), “Canção à Ingleza”, “Insomnia” e “Poema em Linha Recta”. Foram os que mais me fizeram sentir e mais me fizeram apegar ao poeta.

Embora eu discorde com ele a vários níveis no que toca a certos pontos que ele fez na sua prosa, não posso dizer que Campos não foi um homem incrivelmente inteligente.

Ficam aqui alguns dos meus versos favoritos:

“Nada me prende a nada.
Quero cincoenta coisas ao mesmo tempo.” — “Lisbon Revisited” (1926).

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
Àparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” — “Tabacaria” (1928).

“Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não ha mendigo que eu não inveje só por não ser eu.” — “Tabacaria” (1928) (estes dois versos são, provavelmente, os meus favoritos de todo o sempre. Sinto-os de uma maneira inexplicável).

“Não durmo; não posso ler quando accordo de noite,
Não posso escrever quando accordo de noite,
Não posso pensar quando accordo de noite —
Meu Deus nem posso sonhar quando accordo de noite!” — “Insomnia”(1929).

“Ah, o opio de ser outra pessoa qualquer!” — “Insomnia”(1929).

“Quero perder o habito de gritar para dentro.” — “Paragem. Zona” (1930).

“Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.” — “Poema em Linha Recta” (1932).

“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida...” - “Poema em Linha Recta” (1932)

“Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...” — “Começo a conhecer-me. Não existo”(s.d).

Ficam aqui também alguns excertos da Prosa de Campos, do capítulo “Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro”:

“Foi durante a nossa primeira conversa... Como foi não sei, e êle disse: “Está aqui um rapaz Ricardo Reis que há de gostar de conhecer: êle é muito diferente de si”. E depois acrescentou, “Tudo é diferente de nós, e por isso é que tudo existe”.

“Diga-me uma coisa. O Caeiro o que é para si mesmo?
— O que sou para mim mesmo? repetiu Caeiro. — Sou uma sensação minha.”

“”Nunca altero o que escrevi”, disse-me uma vez o meu mestre Caeiro. “Se o escrevi assim é porque o senti assim, e nada tem para o caso que eu hoje sinta de um modo diferente. Os meus poemas contradizem-se muitas vezes, bem sei, mas que importa, se eu me não contradigo?”

“A poesia existe para exprimir aquillo que as acções e os gestos não podem exprimir.”

“Ter opiniões é estar vendido a si-mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.”

Por fim, deixo aqui também um pequeno excerto de outro capítulo da sua Prosa, “Correspondência”:

“Não é á crítica que me quero referir, porque ninguem pode esperar ser comprehendido antes que os outros aprendam a lingua em que falla.”
Profile Image for Philautia.
192 reviews
June 29, 2021
Eu amo este homem, mas se eu o conhecesse na vida real, achá-lo-ia a pessoa mais insuportável de sempre... A audácia da criatura, juro.
Profile Image for Davvybrookbook.
306 reviews7 followers
July 29, 2024
I started The Complete Works of Álvaro de Campos shortly after finishing the parallel publication of The Complete Works of Alberto Caeiro. The key difference between the two books is length and facing-page translation. Since there are fewer poems by Caeiro, the master, New Directions was able to include the original Portuguese and facing English translation. Personally, I love to see the Portuguese and was in the habit of reading it first for the sonorous appeal as well as the general feel of each poem. The English alone, as is the case in Álvaro de Campos does seem to fall short of the essence of the poem. This became apparent in poem 130, Magnificat. A facing image of the original says:
MAGNIFICAT
Quando o’que passará este noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que dispertarei de estar accordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossivel de fitar.
As estrellas pestanajem xxxx frio,
Impossiveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossivel de escutar.
Quando é que passará este drama sem theatro,
ou este theatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, Quem tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Jesué parar o sol e eu accordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!


While the English proceeds:


130 [7 November 1933]
Magnificat
When will this inner night, the universe, pass,
And when will I, my soul, have my day?
When will I wake from being awake?
I don't know. The sun is shining on high,
Impossible to look at.
The stars blink coldly,
Impossible to count.
My heart beats on obliviously,
Impossible to hear.
When will this drama-without-theater pass,
Or this theater-sans-drama, And when will I go home?
Where? How? When?
Cat looking at me with the eyes of life, What lies deep inside you?
That's the One! That's the One!
That's the One who, like Joshua, will order the sun to stop, and I will wake up:
And then it will be day.
Smile, my sleeping soul!
Smile, my soul; it will be day!


It is still a great poem, it just shows what is lost in translation.

Still there are so many wonderful poems by Álvaro de Campos that these 350 pages are worthy of reading in translation. Next time I am in Lisbon though, I will be buying the complete poems of Pessoa to make sure I have the Portuguese to illuminate the poets greatness.

147 [16 August 1934]
I took off the mask and saw myself in the mirror...
I was the child I'd been years ago...
I hadn't changed at all...

That's the advantage of being able to remove the mask.
One is always the child,
The past that remains,
The child.


Highly recommend. Just can’t wait for Ricardo Reis, if ever his classical Odes are to be translated and published in this set by New Directions.
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews80 followers
December 29, 2014

Bem sei que tudo é natural

Bem sei que tudo é natural
Mas ainda tenho coração…
Boa noite e merda!
(Estala, meu coração!)
(Merda para a humanidade inteira!)
Na casa da mãe do filho que foi atropelado,
Tudo ri, tudo brinca.
E há um grande ruído de buzinas sem conta a lembrar
Receberam a compensação:
Bebé igual a X,
Gozam o X neste momento,
Comem e bebem o bebé morto,
Bravo! São gente!
Bravo! São a humanidade!
Bravo: são todos os pais e todas as mães
Que têm filhos atropeláveis!
Como tudo esquece quando há dinheiro.
Bebé igual a X.
Com isso se forrou a papel uma casa.
Com isso se pagou a última prestação da mobília.
Coitadito do Bebé.
Mas, se não tivesse sido morto por atropelamento, que seria das contas?
Sim, era amado.
Sim era querido
Mas morreu.
Paciência, morreu!
Que pena, morreu!
Mas deixou o com que pagar contas
E isso é qualquer coisa.
(É claro que foi uma desgraça)
Mas agora pagam-se as contas.
(É claro que aquele pobre corpinho
Ficou triturado)
Mas agora, ao menos, não se deve na mercearia.
(É pena sim, mas há sempre um alívio.)
O bebé morreu, mas o que existe são dez contos.
Isso, dez contos.
Pode fazer-se muito (pobre bebé) com dez contos.
Pagar muitas dívidas (bebézinho querido)
Com dez contos.
Pôr muita coisa em ordem
(Lindo bebé que morreste) com dez contos.
Bem se sabe que é triste
(Dez contos)
Uma criancinha nossa atropelada
(Dez contos)
Mas a visão da casa remodelada
(Dez contos)
De um lar reconstituído
(Dez contos)
Faz esquecer muitas coisas (como o choramos!)
Dez contos!
Parece que foi por Deus que os recebeu
(Esses dez contos)
Pobre bebé trucidado!
Dez contos.
Profile Image for laura.
118 reviews28 followers
May 26, 2024
esse sabia das coisas viu…
Profile Image for Marina.
889 reviews178 followers
did-not-finish
June 20, 2018
Abbandonato a pagina 198. Scavallare la metà è anche più di quello che potevo fare con questo libro.

Adoro Ricardo Reis, ho un rapporto di amore-odio con Bernardo Soares, ma evidentemente Álvaro de Campos non fa proprio per me.

In più, questo libro mi è stato regalato dal mio ex, ovviamente quando stavamo insieme, e ogni volta che lo apro mi viene la nausea. Una ragione in più per non forzarmi a continuare la lettura di un libro che in ogni caso non mi sta piacendo per niente.
Profile Image for Maria Carmo.
2,013 reviews51 followers
March 20, 2012
Eis um maravilhoso (mas torturado) heterónimo de Fernando Pessoa! O "Poeta sensacionista", como ele próprio se descreve, que é talvez o mais místico... Busca em tudo quanto existe confundir-se com a própria raiz DAQUILO QUE é:

"Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem -
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o propalado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto,
Eu sofro ser eu através disso tudo como ter sede sem ser de água."

Há um certo desespero e impotência em relação à vida e à própria Alama:


"Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O regato casual das chuvas que vão acabando,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino."

Passa-se com facilidade da eloquência grandiosa de uma Ode Marítima ou de uma Ode Triunfal para um retracto sensacionista do quotidiano da Lisboa da época:

"Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!"

Mas depois de todo o desespero e êxtase (sim, por paradoxal que pareça!) há uma vertente quase ritualística, e muito bela, como pode ver-se no famoso "Eros e Psiqué":


Eros e Psiquê
( ...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades que vosforam dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma
verdade. )
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio Na Ordem Templária De Portugal)
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."



O seu sensacionismo é a sua forma de transcender os limites da mente e, de uma forma quase "oriental", ser uno com todos os seres e até com tudo o que existe:


"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco."


Ao mesmo tempo, perpassa a sesnação da enorme desilusão em relação a si mesmo, da sensação de impotência perante as suas próprias aspirações e uma certa paralilsia...
Para terminar:


"Cruz na porta da tabacaria!
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.
(14-10-1930)"


Absolutamente a ler!!!!!

Maria Carmo

Lisboa 20 Março 2012.







Profile Image for Daniela.
27 reviews37 followers
November 7, 2022
"Às vezes entre o ruído das máquinas da fábrica
Toca-me levemente uma saudade no braço
E eu viro-me... e eis que no quintal da minha casa antiga
A criança que fui ignorando ao sol quem eu haveria de ser."
Profile Image for João Gabriel Caia.
42 reviews3 followers
March 6, 2023
Álvaro de Campos, o meu heterónimo preferido do mais atormentado e talentoso poeta da língua portuguesa, Fernando Pessoa. sobretudo na sua fase mais intimista ou pessimista, a beleza dos seus versos e a profundidade das suas palavras ditam uma experiência literária única, um contacto inesquecível com uma personalidade poética complexa, cujo encontro e desencontro com as mais imediatas preocupações existenciais nos põe à prova.
(5/5)
Profile Image for Fernanda Lobo.
15 reviews
June 26, 2012
"No lugar dos palácios e em ruínas
À bera mar,
Leiamos, sorrindo, os segredos das sinas
De quem sabe amar.

Qualquer que ele seja, o destinos
Daqueles que o amor levou
Para a sombra, ou na luz se fez a sombra deles,
Qualquer fosse o voo.

Por certo eles foram mais reais e felizes."
Profile Image for Carolina Morales.
319 reviews66 followers
July 12, 2013
My beloved, favoutite of all (too many) heteronyms of Fernando Pessoa. Cynical, skeptic, a little rude now and then, but always talented and straight.
Profile Image for Erwin Maack.
444 reviews17 followers
February 5, 2015
Em língua portuguesa ninguém, que eu conheça, chegou às profundezas que este homem conseguiu alcançar e mais do que isso, transmitir, comunicar com tanta ênfase, emoção e rigor.
Profile Image for Lealdo.
133 reviews9 followers
Read
July 21, 2021
Acho difícil, talvez impossível, dissociar o que me vem à mente quando penso em poesia pura do que o que eu encontro nesse livro.
Profile Image for Murilo.
31 reviews9 followers
September 24, 2021
"Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo,
Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir."
Profile Image for Claudia Lizeth.
112 reviews4 followers
February 11, 2024
En mi opinión, Álvaro de Campos representa el más destacado de los heterónimos de Fernando Pessoa. Su voz es sobria, arrastrada por una fiebre existencial con la cual cualquier ser humano podría identificarse. En esta antología se encuentra uno de los mejores poemas jamás escritos: "Tabaquería". Es difícil, casi imposible, expresar adecuadamente la grandeza de los poemas de Álvaro de Campos; cualquier intento sería insuficiente y hasta un agravio. La mejor manera de honrar esta belleza literaria es sumergirse en ella una y otra vez, y más allá de buscar comprenderla, sentir cada palabra, ir al vacío y regresar a la oprobiosa existencia.

Grande Fernando Pessoa, como siempre.
Profile Image for Sandra .
23 reviews
October 12, 2023
Pessoa siempre será uno de mis poetas más favoritos del mundo. Su "Não quero nada" lo llevo grabado a fuego desde hace años, volver a leerlo ahora, después de tanto tiempo, hace que me emocione aún más. No sé, si no habéis leído a Pessoa, a qué estáis esperando??? Aunque solo sea un poemita!
Profile Image for maryna.
35 reviews
July 24, 2020
"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, porque todas as coisas são, em verdade, excessivas."

aaaaameeeeeeiiiiiiii <3
Profile Image for Loïs.
20 reviews19 followers
October 8, 2022
4,5/5

🤍🌿🤍🌿🤍
(Pas de mot pour le moment, que des bourrasques qui viennent du livre dans les mains vers mon coeur chancelant.)
Profile Image for Selma.
192 reviews11 followers
Read
January 15, 2024
L'agencement des mots et certes beau, mais il n'y a nullement la sensibilité que j'apprécie chez Pessoa. :/
Profile Image for amanda.
30 reviews
February 28, 2025
tengo una relación parasocial con este heterónimo de pessoa
145 reviews3 followers
May 11, 2024
Another Pessoa. Really great, full of sadness and beauty. Works better just opening to a random page and reading than reading straight through though, I think.
Profile Image for prout flambant neuf.
79 reviews
February 13, 2025
je m’attendais à mieux mais mon goat est toujours goatesque il m’a donné envie d’aller contempler les fleurs aussi moi aussi je veux voir
Displaying 1 - 30 of 106 reviews

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